(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


sexta-feira, 1 de junho de 2007

Os Vinte Poemas, Pablo Neruda



"Me lembro como eras no último outono.
Eras a boina cinzenta e o coração em calma.
Nos teus olhos brigavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caíam na água da tua alma.

Colada aos meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam a tua voz lenta e em calma.
Fogueira de espanto em que a minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma.

Sinto viajarem teus olhos e é distante o outono:
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa,
para onde emigraram os meus profundos desejos
e caíam os meus beijos alegres como brasas.

Céu (visto) de um navio. Campo (visto) dos montes:
tua lembrança é de luz, de fumaça, de lago em calma!
Mais para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma."


(Antologia Poética, José Olympio, 1994, p.43-44)


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