(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


sábado, 13 de setembro de 2008

Soneto XLII - Pablo Neruda




"Radiantes dias balançados pela água marinha,
concentrados como o interior de uma pedra amarela
cujo esplendor de mel não derrubou a desordem:
preservou sua pureza de retângulo.

Crepita, sem, a hora como fogo ou abelhas
e é verde a tarefa de submergir em folhas,
até que para a altura é a folhagem
um mundo cintilante que se apaga e sussurra.

Sede do fogo, abrasadora multidão do estio
que constrói um éden com algumas quantas folhas,
porque a terra de rosto escuro não quer sofrimento,

mas frescor ou fogo, água ou pão para todos,
e nada deverá dividir os homens
senão o sol ou a noite, a lua ou as espigas."

(In: Cem Sonetos de Amor)



"Radiantes días balanceados por el agua marina,
concentrados como el interior de una piedra amarilla
cuyo esplendor de miel no derribó el desorden:
preservó su pureza de rectángulo.

Crepita, sí, la hora como fuego o abejas
y es verde la tarea de sumergirse en hojas,
hasta que hacia la altura es el follaje
un mundo centelleante que se apaga y susurra.

Sed del fuego, abrasadora multitud del estío
que construye un Edén con unas cuantas hojas,
porque la tierra de rostro oscuro no quiere sufrimientos

sino frescura o fuego, agua o pan para todos,
y nada debería dividir a los hombres
sino el sol o la noche, la luna o las espigas."