(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


segunda-feira, 24 de março de 2008

O esforço - Fabrício Carpinejar



"O que se esforçou para viver não desaparece."

sexta-feira, 21 de março de 2008

A árvore - Fernanda de Castro


Na Primavera, a árvore
era um ninho de folhas palpitantes
como pequenas asas verdes.

No Estio,
cobria-se de flores, cada ramo
era um jardim suspenso.

Vinha depois o Outono. As flores mortas
eram leito de pássaros.
As folhas partiam, esvoaçando,
tal borboletas de oiro.

Por fim, o Inverno; em vez de folhas,
braços nus, troncos mortos,
desolada solidão.

Mas um dia...
Um dia a Primavera voltou
com suas folhas palpitantes
como pequenas asas verdes.

O Estio,
com as suas flores,
com os seus jardins suspensos.

O Outono, com seus pomos
e as borboletas de oiro
das suas folhas a dançar ao vento.

O Inverno com seus musgos,
seus descamados braços nus.

Mas a árvore
a bela árvore era sempre a mesma
na sua ilimitada confiança.

Foi então que aprendi,
da árvore, a lição:
A vida é uma longa paciência
e uma longa esperança.

Para Cris - Julio Cortázar


“Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir. Talvez
seja isto uma árvore,
ou quem sabe,
o amor.”

(Tradução Sidnei Schneider, 2007)

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Ahora escribo pájaros.
No los veo venir, no los elijo,
de golpe están ahí, son esto,
una bandada de palabras
posándose
una
a
una
en los alambres de la página,
chirriando, picoteando, lluvia de alas
y yo sin pan que darles, solamente
dejándolos venir. Tal vez
sea eso un árbol
o tal vez
el amor.

(Julio Cortázar, Cinco últimos poemas para Cris, Salvo el crepúsculo, 1984.)


Canções para a lua cheia



Impossível não sentir a magia desta noite

de lua plena

Quando o vento traz uma carícia à pele,

um arrepio

Será o outono chegando

Ou apenas o roçar das asas de um anjo?

"Yesterday, all my troubles seemed so far away..."

A trilha sonora perfeita

para o passeio da lua pelos meus olhos...

Como poderia sentir-me sozinha?

Como não esquecer todos os mortais

entraves e contingências?

Ao fundo, as águas cantantes de um "arroio guri"

fazem a segunda voz

para uma noite encantada...

"Unforgettable... it's incredible..."

Já não sei se mais ouço, vejo, ou sinto...

mas calo

diante de tamanha beleza

transcendência

Pureza

MágicaEssência.

"What a wonderful world..."


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(Ruiva da Noite, 21/03/2008)

Publicado no Recanto das Letras em 21/03/2008

Código do texto: T910925