(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


domingo, 26 de julho de 2009

Nó - Flora Figueiredo



Estou perdidamente emaranhada
em seus fios de delícias e doçuras.
Já não encontro o começo da meada,
não sei nem mesmo
se há uma ponta de saída,
ou se a loucura
vai num ritmo crescente
até subjugar a minha vida.
Não importa.
Quero seus nós de seda
cada vez mais cegos e apertados
a me costurar nas malhas e nos pêlos.
Enquanto você me amarra,
permanece atado
na própria trama redonda do novelo.


(Amor a céu aberto, Editora Nova Fronteira, 1992 - Rio de Janeiro, Brasil)

Florescer é resultar - Emily Dickinson


Florescer – é resultar – quem encontra uma flor
E a olha descuidadamente
Mal pode imaginar
O pequeno pormenor

Que ajudou ao incidente
Brilhante e complicado,
E depois oferecido, tal borboleta,
Ao meridiano

Encher o botão, opor-se ao verme
Obter o que de orvalho tem direito
Regular o calor, escapar ao vento
Evitar a abelha que anda à espreita,

Não decepcionar a Grande Natureza
Que a espera nesse dia
Ser flor é uma profunda
Responsabilidade.

(Tradução de João Ferreira Duarte, em "LEITURAS, poemas do inglês", Relógio de Água, 1993. )