(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)
“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.
Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”
(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)
domingo, 12 de junho de 2011
Melancolia - Guilherme de Almeida (Fragmento)
"Sobre um fruto cheiroso e bravo
todo pintado de vermelho vivo
uma lagarta verde dorme.
o silêncio quente do meio-dia
respira como o papo da ave. No ar alvo
a asa de uma cigarra risca um silvo
longo - brilhante - e some.
Melancolia."
terça-feira, 7 de junho de 2011
Rainer Maria Rike
"Tira-me a luz dos olhos: continuarei a ver-te Tapa-me os ouvidos, continuarei a ouvir-te E embora sem pés caminharei para ti E já sem boca poderei ainda convocar-te. Arranca-me os braços: continuarei abraçando-te Com o meu coração como com a mão Arranca-me o coração: ficará o cérebro E se o cérebro me incendiares também por fim Hei-de então levar-te no meu sangue."
(Poema publicado no Livro das Horas.)
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