(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


domingo, 6 de janeiro de 2013

As vogais – Arthur Rimbaud




"A, negro, E, branco, I, rubro, U, verde, O, turquesinho.

vossa origem latente hei-de cantar em breve.

O enxame que a zumbir de um pântano se eleve,

A, teu negro veludo esmalta de ouro fino;

E, brancura ideal das tendas cor de neve,

umbelas de alvos reis, lanças de gelo alpino;

I, sangue em jorros, I, púrpura em chamas, hino

de cólera que, a rir, num lábio em flor se atreve;

U, círculo do mar nos glaucos horizontes,

verdes pastos sem fim, rugas sulcando as fontes

dos que buscam da ciência os íntimos refolhos;

O, fanfarras, clarins, trons de vitórias, brados;

O, silêncios azuis de anjos e sóis povoados,

O, clarão vesperal, violáceo, dos seus olhos!"

(Trad. Augusto de Campos)