(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


domingo, 3 de junho de 2007

As máscaras


Quando pensas que depuseste a tua máscara
conservas várias outras encobrindo tua face.
Elas sobrepõem-se de tal maneira que,
no momento em que te livras da primeira
ainda restam todas as demais...
Sob a luz da inconsciência, nem percebes
o simulacro em que mergulhas, absorto...
(julgando ser aquela, a única...)
E, no entanto, nada deixas entrever
da face real, a que encobres a ti e aos demais...
Escondendo tua essência
aos olhos curiosos e maledicentes.
Peço-te: deposita todas elas
sobre o móvel e deixa-te apenas ser (e estar).
Ao menos por uma fração de segundo
Teu eu profundo, teu ser primordial, a alma-criança
A Rosa Mística do teu coração
Tua alma ingênua e nua...
Entrega ao acaso teus adereços...
E deposita no tempo teus medos...
Segue sem as vestes do ego...
E, nu, serás, ao final, tu próprio!





Ruiva da Noite

Publicado no Recanto das Letras em 03/06/2007
Código do texto: T511730

Nenhum comentário: