(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


domingo, 27 de setembro de 2009

Obsessão do Mar Oceano – Mario Quintana





"Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
sobre as mesas... e moças nas janelas
com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
na vitrina do bric o teu sorriso, antínous,
e eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
de su’alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
uma caixa de música
uma bússola
um mapa figurado
uns poemas cheios da beleza única
de estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontraremos sobre o Mar Oceano,
quando eu também já não tiver nome."


(In: O Aprendiz de Feiticeiro, p.33)

Nenhum comentário: