(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


sexta-feira, 11 de maio de 2007

Mãe, eis a tua flor... e a minha saudade...


Minha mãe possuía a sabedoria para encantar plantas e pássaros. Ao menos, era o que eu pensava toda vez que a via alimentar beija-flores ou via as sementes que ela plantava germinarem. Admirada com essa misteriosa sintonia com a natureza, desde criança perguntava a ela:

- Como se faz para que todas as sementes e galhos se transformem em plantas... e flores... e os passarinhos, ao visitá-las, também se acostumem comigo e não tenham medo de mim?

- É simples, respondia ela. Toda vez que lançares uma semente à terra, pensa no quanto gostarias de vê-la germinar; imagina a planta já vingada e o prazer de vê-la fecunda, com flores; da mesma forma, imagina aqueles que dela irão se alimentar, porque mais do que a beleza, procurarão a dádiva do alimento, da vida. Mas, olha, esquece de ti nesse momento...não deves fazer isso pensando no teu prazer, na tua vaidade; para que a vida aconteça, é preciso desprendimento, é preciso saber desejar a possibilidade de vida, e isso é muito mais do que desejar a própria satisfação.

Afinal, como se aprende a querer a vida, mãe? Quando tudo o que existe a nossa volta lembra morte, partida, ausência! Como poderia alguém que nunca acreditou na vida fazê-la surgir, em qualquer lugar, em qualquer tempo? Com a chegada da primavera, vejo todas as sementes que guardavas e penso... o que farei com elas? Tenho medo de dá-las à Mãe Terra... irão germinar? Acima de tudo, tenho medo de não ter aprendido a lição... mas se eu não tentar, como continuarão os pássaros a visitar-me, se não mais existirão flores das quais possam se alimentar?

Ah, minha mãe, como é mesmo que se encantam sementes e pássaros?

(A.M.D., 27/09/2000)



Homenagem das filhas que te amam!

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