"Quando eu fico aguda de
saudade eu viro só ouvido.
Encosto ele no ar, na
terra, no canto das paredes,
pra escutar nefando, a
palavra nefando.
Um homem que já morreu
cantava “a flor mimosa
desbotar não pode, nem
mesmo o tempo
de um poder nefando”
– mais dolorido canta
quem não é cantor.
A alma dele zoando de
tão grave, tocável
como o ar de sua
garganta vibrando.
No juízo final, se
Deus permitisse,
eu acordava um morto
com este canto,
mais que o anjo com sua
trombeta."
(In: Bagagem.
Rio de Janeiro: Record, 2006, p.129)
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