“(...) Repito
todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o
cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol
bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as
partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito
sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce
e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser
doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse
nada. Ninguém perguntará coisa alguma, penso. Depois continuo a
contar para mim mesmo, como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta
e a criança que escuta, sentado no colo de mim (...)”
(In: Os
dragões não conhecem o paraíso, 1988)
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