(Beth Moon - Ancient Trees: Portraits Of Time, Abbeville Press, 2014)


“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho
da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)


domingo, 24 de maio de 2015

Meu Deus, me dê a coragem - Clarice Lispector


“Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. 
Receba em teus braços o meu pecado de pensar.”

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Poets of the Fall - Cradled in Love




You had the blue note sapphire eyes, to back up all those gazes
To pierce my guard and to take my soul off to faraway places
Told me I'll never be alone, cos you're right there

We took a gamble with this love, like sailing to the storm
With the waves rushing over to take us,
we were battling against the tide
You were my beacon of salvation, I was your starlight

So don't cry for your love, cry tears of joy
Cos you're alive cradled in love
Don't cry for your love, cry tears of joy
Cos you're alive cradled in love

I kept the love you gave me alive, and now I carry it with me
I know it's just a tear drop from mother earth, but in it
I can hear a dolphin sing
Telling me I'll never be alone, I know you're right there

So with the fire still burning bright, I wanna gaze into your light
If I could see my fortune there,
you know how flames can hypnotize
Do I even dare to speak out your name
for fear it sounds like, like a lover

So don't cry for your love, cry tears of joy
Cos you're alive cradled in love
Don't cry for your love, cry tears of joy
Cos you're alive

Cradled in love


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Precisão - Clarice Lispector







“O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.” 

Soneto XIV - Elizabeth Barret Browning




"Ama-me por amor do amor somente,
Não digas: 'Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua'. Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor e, assim,
Me hás de querer por toda a eternidade."


(Tradução de Manuel Bandeira)

 
"If thou must love me, let it be for nought
Except for love's sake only. Do not say
«I love her for her smile... her look... her way
Of speaking gently,... for a trick of thought

That falls in well with mine, and certes brought
A sense of pleasant ease on such a day» —
For these things in themselves, Belovèd, may
Be changed, or change for thee, — and love, so wrought,

May be unwrought so. Neither love me for
Thine own dear pity's wiping my cheeks dry, —
A creature might forget to weep, who bore

Thy comfort long, and lose thy love thereby!
But love me for love's sake, that evermore
Thou may'st love on, through love's eternity."